TESTO

O uso da testosterona saiu do controle? Entenda os riscos e distorções atuais.

A absolvição científica — e a condenação cultural

A testosterona foi, enfim, absolvida. O TRAVERSE Trial, o maior e mais confiável estudo sobre terapia de reposição hormonal em homens com hipogonadismo, concluiu que o hormônio não aumenta o risco de eventos cardiovasculares graves — mesmo em pacientes com histórico cardíaco.

A ciência limpou sua ficha.

Mas fora dos laboratórios e consultórios, a testosterona continuou sendo julgada — e, dessa vez, pelos tribunais da cultura digital.

Da evidência ao feed: como a testosterona virou símbolo de performance

Os resultados do TRAVERSE mal haviam sido publicados quando começaram a ser capturados por discursos simplistas. Influenciadores fitness, clínicas “anti-aging” e perfis de lifestyle passaram a usar o estudo como um selo de aprovação hormonal.

Sem critérios clínicos, a testosterona virou marketing. Promessas de energia, virilidade e performance física passaram a ser vendidas como solução universal para homens cansados, inseguros ou em busca de vantagem estética.

O estudo, no entanto, nunca validou esse tipo de uso. Ele analisou homens com hipogonadismo real, diagnosticado com base em sintomas persistentes e níveis hormonais <300 ng/dL. Não basta um exame isolado. Não basta estar “sem disposição”.

O crescimento preocupante do uso recreativo

A popularização da testosterona fora do contexto médico fez crescer também o uso recreativo de hormônios e anabolizantes. Dados recentes associam esse uso a:

  • Lesões musculares
  • Disfunções hepáticas e renais
  • Alterações no humor e saúde mental
  • Supressão hormonal de longo prazo

A fronteira entre terapia legítima e abuso farmacológico virou um borrão — muitas vezes intencional. E esse borrão é lucrativo para quem vende soluções hormonais em pílulas, seringas e promessas.

Nem toda testosterona baixa exige reposição

É essencial repetir: testosterona baixa nem sempre significa necessidade de TRT (Terapia de Reposição de Testosterona). Diversos fatores podem interferir nos níveis hormonais, incluindo:

  • Resistência insulínica
  • Excesso de peso
  • Privação de sono
  • Uso de medicamentos

Estudos mostram que perder peso, controlar a glicemia ou usar medicamentos como a tirzepatida pode restaurar a produção natural de testosterona sem a necessidade de intervenção hormonal.

Mas esse tipo de informação não rende likes.

TRT é tratamento, não performance

O hipogonadismo verdadeiro impacta libido, saúde metabólica, humor e qualidade de vida. Mas o diagnóstico é clínico — não digital. Requer exames repetidos, histórico sintomático e acompanhamento médico rigoroso.

Reposição hormonal não é slogan de Instagram. É um tratamento sério, com riscos, efeitos colaterais e necessidade de monitoramento contínuo. Transformá-lo em estratégia de performance para homens jovens e saudáveis é não só um erro — é um risco à saúde pública.

A testosterona precisa voltar para onde pertence

A testosterona não é vilã. Tampouco é mágica.

Ela é parte essencial da fisiologia masculina e, em casos específicos, sua reposição pode melhorar drasticamente a saúde de quem sofre de hipogonadismo real. Mas sua banalização transforma ciência em fetiche hormonal.

TRAVERSE Trial trouxe evidência. E evidência exige leitura crítica. Não filtros e frases de efeito.

Que a testosterona volte ao seu lugar de origem: o consultório médico — e não a bio do influenciador.

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